Balança comercial brasileira 2019: a má interpretação por parte da imprensa

As principais mídias brasileiras trataram o resultado da Balança Comercial como algo negativo, principalmente em função do recuo de nosso volume exportador e importador. Essa maneira de ler o resultado da Balança Comercial é histórica no Brasil e sempre foi equivocada. E é sobre isso que vamos falar nesse artigo.

Do resultado da Balança em 2019
A Balança Comercial do Brasil registrou um saldo de quase 20% menor que em 2018. Foi também o menor saldo desde 2015. Porém, analisar uma Balança Comercial de um país julgando-a pelo saldo é extremamente equivocado. Ao analisarmos os saldos de países desenvolvidos e de reconhecida participação no comércio global, podemos entender que saldo positivo ou saldos muito grandes, não são sinônimos de boa participação no comex mundial.
Os EUA podem ser considerados o maior exemplo disso. Ao analisarmos o gráfico do saldo do país nos últimos anos, sempre as importações foram maiores que as exportações, de acordo com o Trading Economics. Não à toa, o país tem nos últimos meses dividido a opinião de seu país com a Guerra Comercial com a China. O déficit com os chineses é tão grande que o impacto na Balança vem piorando ano a ano. Desta forma, analisar saldo não é a maneira correta de criticar a Balança, mas sim, as operações que nela estão sendo feitas, a pluralidade de produtos e países com o qual um país se relaciona. Isso sim traz uma análise mais afiada da questão.
Ao analisar por esse viés, entendemos que o ano brasileiro de fato não foi bom como no ano passado. A queda foi mais sentida pelo efeito da retração das exportações, que caíram 7,5% em comparação ao também ano anterior. A importação também recuou, porém de maneira mais tímida. A redução representou 3,3% em relação ao ano anterior. Assim, sendo pode-se afirmar que o ano não foi bom porque houveram quedas tanto nas vendas, quanto nas compras. Porém, se as operações tivessem sido maiores, o saldo deste ano sendo menor que 2018 não teria qualquer sentido, se não em caso do nosso país estar necessitado de divisas estrangeiras, o que também não é o caso.
Porém, ainda assim, ampliamos nossos acordos e o número de países com os quais temos agora relação. Por se o comércio exterior uma via de mão dupla, não podemos em qualquer hipótese encarar a conta como uma conta de banco, em que ter saldo cada vez maior na conta corrente é resultado favorável.

Do comércio global em 2019
O mundo passa por uma recessão. Ainda que tímida, a recessão tem diversos efeitos, que poderiam num próximo artigo, serem tratadas com mais detalhes.
Tal recessão pode ser comprovada pelo estudo do The Global Economy, realizado para 2018.
Dos 130 países analisados, 54 tiveram saldo superior a 0,1%. Apenas 17 países cresceram mais que dois dígitos. O comércio global, em sua média, recuou, segundo o estudo, em 4,27% comparado ao ano anterior (2017).
Devemos recordar também que o Brasil encarou em 2019 seu primeiro ano de novo governo, com Reformas estruturantes em julgamento, bem como no seu 5° ano de crise – e que crise. Com a indústria encolhendo, naturalmente o volume de exportação e importação não deveria crescer nos últimos anos, mas cresceu. Outro fator grave que impactou nosso desempenho esse ano foi a elevação do câmbio de modo muito rápido e a guerra comercial EUA e China.
Mesmo assim, a Secretaria de Comércio Exterior do Brasil fez um balanço positivo sobre 2019, citando a conclusão de acordos comerciais importantes, como o do Mercosul com a União Europeia e com a Efta. Somando os dois blocos, falamos de 25% do PIB global e 780 milhões de consumidores.
Esse cenário de 2019 deixa otimista o crescimento da participação brasileira na economia internacional.

Da expectativa para 2020
A preocupação do governo brasileiro deve estar focada no aumento da corrente de comércio exterior, provocando maior atuação do nosso país em volume e com o maior número de países parceiros possível. Isso dá pluralidade e sustentação a uma economia globalizada.
A participação do Brasil no cenário global ainda é semelhante à da década de 80. A participação do comércio exterior no PIB, representa hoje, algo em torno de 24%, muito abaixo de países de economia semelhante ao Brasil, como México, onde o percentual da corrente de comércio sobre o PIB é superior a 70%. Na China, por exemplo, ultrapassa 40% e no Chile chega aos 30%.
Porém, com as reformas estruturantes em implementação no Brasil, bem como as tramitações para reforma tributária e melhoria da infraestrutura, devemos começar a demandar mais negócios internacionais.
Inevitavelmente, se falamos de um desenvolvimento de um país no sentido global, falamos de importação de tecnologia. E se queremos expandir ainda mais os negócios, precisamos conquistar novos parceiros que nos ajudem consumindo e vendendo. Para isso, novos acordos devem entrar em vigor a partir deste ano.  Temos em estágio avançado negociações para um acordo de livre comércio com o Canadá, Coreia do Sul e Singapura, que devem ser assinados neste ano. Há também expectativa positiva para a retomada do acordo automotivo com o México e a conclusão de acordos semelhantes com Paraguai e Argentina.
Torcer para que o ano de 2020 traga maiores resultados em volumes de negócios para o Brasil, independente do tamanho do saldo.

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