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O cenário brasileiro para o setor têxtil não é favorável há pelo menos 20 anos. O setor reclama os prejuízos sofridos com a abertura de mercado da década de 90, que acabou dizimando polos têxteis de várias regiões do Brasil. Mas o que a pandemia pode mudar nesse cenário?

Do setor têxtil
Com um faturamento da Cadeia Têxtil e de Confecção na ordem de US$ 48,3 bilhões em 2019, contra US$ 52,2 bilhões em 2017, o setor têxtil apresentou queda de produtividade no último ano. Também continuamos importando mais que exportamos no setor. O saldo da balança comercial (sem fibra de algodão) em 2019 foi de US$ 3,1 bilhões negativos, contra US$ 2,8 bilhões negativos em 2017.
O setor têxtil que sempre foi forte no Brasil perdeu força nos últimos 30 anos. Mesmo assim, continua sendo um grande motor da economia brasileira. Foi o 2º. maior empregador da indústria de transformação, perdendo apenas para alimentos e bebidas (juntos) no último ano. Foi também o 2º. maior gerador do primeiro emprego. Ao todo, são 1,5 milhão de empregados diretos e 8 milhões se adicionarmos os indiretos e efeito renda, dos quais 75% são de mão de obra feminina.
Ao todo, segundo a ABIT, são 25,2 mil empresas em todo o País (formais). Somos o quarto maior produtor e consumidor de denim do mundo e quarto maior produtor de malhas do mundo. Somos referência mundial em design de moda praia, jeanswear e homewear, tendo crescido também os segmentos de fitness e lingerie.
E a pergunta que fica é, por que o setor ainda carece de apoio para crescer ainda mais?

Da pandemia
O número de casos no Brasil, até a data de publicação desse artigo, já ultrapassou 100 mil pessoas. As mortes já ultrapassaram 7 mil. Há uma corrida insana na busca por produtos e mantimentos da área da saúde. Praticamente há um fornecedor ativo no mundo: a China. Os demais países encontram-se todos em stand bye, com fábricas paradas e isolamento parcial ou total da sociedade.
Em alguns países da Europa e Ásia, o retorno pós isolamento é gradual. Em outros como Brasil e Índia, o isolamento continua intenso e com possibilidades de aumento e intensificação.
No consumo das pessoas, diversos hábitos já mudaram e tendem a mudar ainda mais, principalmente após o pior passar. O setor têxtil é um dos que mais precisarão ajudar a sociedade nos processos de prevenção de novas pandemias, mas por um histórico de crises no país, é um dos que mais sofre por falta de investimentos e apoio, gerando falta de inovação e participação global do setor produtivo.

Do que está por vir ao setor têxtil
Diante desse cenário catastrófico nas áreas da saúde e economia, o setor têxtil parece já começar a se reinventar, e de modo forçado. Após vários anos sofrendo com a importação, o setor passou a ser o salvador da pátria. Ao invés de produzir roupas, cortinas, agasalhos, tecidos, etc., as empresas têxteis brasileiras estão fabricando a todo vapor produtos de proteção para o combate e prevenção ao Coronavírus. De norte a sul do país, confecções de pequeno, médio e grande porte tem sido a salvação para o Brasil, que em meio a pandemia, se viu forçado a produzir internamente aquilo que havia deixado de produzir ou incentivar. Uma vez que a China não está dando conta de atender o mundo todo e a logística internacional se complicou, a saída foi a nacionalização do processo produtivo.
E a pergunta que fica é: será que passado o cenário de caos, as indústrias têxteis serão novamente olhadas pelo governo? Não precisa necessariamente proteger a indústria nacional do importado. Isso seria tolice em pleno século XXI. Mas integrar nossos polos produtivos manufatureiros às cadeias globais têxteis pode ser a chance de revitalizar os parques fabris. Ao invés de importar roupa acabada, porque não importar a matéria prima e beneficiar aqui?
Além disso, a indústria forte será também um motor para impulsionar os lojistas. Com o advento do delivery e com a necessidade de reinventar hábitos de lojas físicas, nunca foi tão necessário apoiar os lojistas. Imagine como será utilizar um provador a partir de agora, recém utilizado por outra pessoa? Ou provar uma roupa, recém provada por outra pessoa? Uma loja de calçado mesmo, ao dividir um par de meias? Com a contaminação em voga, as lojas precisarão se reinventar e criar condições saudáveis para ofertar seus produtos. Acima de tudo, os fornecedores precisarão apoiar o setor fazendo a engrenagem girar.
Fora isso, o setor também precisará solucionar dois grandes problemas: criar soluções de roupas que ajudem na prevenção da contaminação, mas acima de tudo, sejam socialmente utilizáveis; criar uma economia social e ambiental, para que as empresas sejam cada vez mais enxutas e produzam menos resíduos na cadeia logística.
Está aí a oportunidade de mais uma vez se reinventar, e quem sabe agora, apoiado pelo governo para se tornar cada vez mais presente a nível global.

Créditos da foto: natalriograndedonorte.com/

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